O DNA do Varejo

Quando as Gerações se Encontram no Caixa

Gustavo Cruz

10/30/20254 min read

Você já reparou como o varejo é uma espécie de “máquina do tempo”?

Dentro da mesma loja, convivem ideias que nasceram em décadas completamente diferentes. E, mesmo assim, de algum jeito, tudo funciona.

  • Tem o fundador, que acredita que nada substitui o olho no olho.

  • Tem o filho, que jura que o segredo está em planilhas e processos.

  • E tem o neto, que acha que o segredo é estar no TikTok.

Pois é. Três gerações, uma mesma empresa… e um universo inteiro de visões de mundo tentando caber no mesmo estoque.

Era uma vez... um balcão de madeira

Lá atrás, quando o caixa ainda tinha gaveta de troco e o “controle de vendas” era feito a lápis no caderno, o varejo era puro instinto. O dono sabia o nome de cada cliente, o fiado era uma relação de confiança, e a vitrine era montada com amor e fita adesiva.

Esses empreendedores, muitos da Geração Silenciosa e dos Baby Boomers não falavam em “experiência do cliente”. Eles eram a experiência do cliente.

A loja era quase uma extensão da casa. O freguês tomava café, o vendedor virava amigo, e o pós-venda acontecia na calçada, com um aceno e um “deu certo aquele remédio?”. Mas aí… veio o tempo da mudança.

A geração que trouxe o Excel pra dentro do balcão

Nos anos 80 e 90, o varejo começou a mudar de cara. A Geração X: filhos dos fundadores; olhou pra aquele caos de papel e confiança e pensou: “Tá, legal… mas e o controle disso tudo?”.

Vieram os computadores, os códigos de barras, o ERP, as metas e os gráficos coloridos. A intuição ganhou companhia dos números, e a gestão ganhou sobrenome: profissionalização.

Essa geração foi responsável por transformar o varejo em empresa de verdade; com planejamento, estoque controlado, DRE e planilha de comissões. Mas, claro, com um pezinho na nostalgia: ainda dava pra confiar no “bom e velho freguês”.

A revolução digital chega com os Millennials

Quando os Millennials (1981–1996) assumem o jogo, o varejo entra na era do “Ctrl+C, Ctrl+V + CRM”. Tudo é digital, automatizado, integrado e, se possível, bonitinho no app.

Eles não nasceram dentro da loja; nasceram conectados. E com isso trouxeram o e-commerce, o marketing digital, as redes sociais e o famoso “cliente no centro”.

Foi quando o varejo percebeu que não bastava vender: era preciso fazer parte da rotina do consumidor. Cada clique virou um dado, cada compra virou uma história, e o varejo; aquele que antes dependia do caderninho,  agora dependia da nuvem.

A geração que já nasce com o dedo no “comprar agora”

E aí… chegam eles. Os Zs (1997–2012). Os nativos digitais que nunca viram um mundo sem wi-fi.

Essa turma não tem paciência pra loja que demora, nem pra site que trava. Querem tudo rápido, transparente e, se possível, sustentável. Eles não compram produtos: compram causas.

Pra eles, o dono da loja não é mais “seu fulano”, é um "creator". O vendedor não é um atendente, é um consultor que ajuda a resolver meus problemas, do meu jeito, no meu tempo.

Essa geração está ensinando ao varejo o que é autenticidade, propósito e velocidade. E sim: eles vão errar, experimentar e reinventar tudo; porque é isso que as gerações fazem.

O desafio da sucessão: um estoque cheio de ideias

Agora imagine o que acontece quando essas gerações se encontram. O pai fala “precisamos conversar com o cliente”. O filho responde “precisamos analisar o dado”. E o neto completa: “precisamos engajar o seguidor”.

Três verdades diferentes — todas certas.

O problema é quando elas competem, em vez de se complementarem. Porque a sucessão empresarial não é uma troca de chave. É uma fusão de gerações.

O segredo está em criar um ambiente onde o fundador compartilha o propósito, o sucessor organiza os processos e a nova geração adiciona inovação. A sucessão dá certo quando o velho ensina o valor e o novo ensina a velocidade.

A loja como espelho do tempo

Os produtos mudaram, os canais mudaram, os clientes mudaram… mas o coração do varejo segue o mesmo.

Ele pulsa em cada “bom dia” na porta da loja. Em cada estratégia de vitrine. Em cada atendimento que resolve de verdade o problema do cliente.

O varejo é, e sempre será, humano. A diferença é que agora ele é humano com dados, automação e storytelling.

E no fim das contas... o varejo não pertence a uma geração. Ele pertence a todas elas.

A cada nova leva de empreendedores, surgem novos códigos de conduta, de consumo, de cultura. E cada código carrega um aprendizado:

  • Dos antigos, o valor da confiança.

  • Dos intermediários, a importância da gestão.

  • Dos novos, a força da inovação.

O desafio está em misturar tudo isso sem perder a essência.

O Código está em nós. Se o varejo fosse uma pessoa, ele seria aquela família grande que se reúne todo domingo: um fala alto, outro discorda, outro inventa moda. Mas, no fim, todos estão ali pelo mesmo motivo: manter o negócio de pé, continuar crescendo e fazer o cliente sair feliz.

O Código Varejista é exatamente sobre isso: conectar gerações, traduzir a experiência em estratégia e fazer o futuro caber dentro da loja.

Porque o varejo muda, as ferramentas mudam… mas o que faz ele continuar vivo é o mesmo de sempre: gente vendendo pra gente.

E você, em qual geração se encaixa? E o mais importante: o que você está ensinando e aprendendo com as outras?